Quem nunca leu a frase:
'Ser louco em uma sociedade doente é realmente saudável'? Ou: "Não é sinal
de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente" por Jiddu
Krishnamurti... Ai vai a minha indagação; a sociedade que não enlouquece
adoece?
Há quem diga que a
sociedade atual nestes tempos modernos, sofre muito mais por sentimentos
invisíveis, mas muito visíveis aos sentidos de quem sente, como a síndrome do
mundo moderno caracterizado por ansiedade, depressão e estresse. Mas quero
falar sobre a doença de ser normal, a normose, se nunca ouviu falar trata-se de
uma obsessão doentia por ser normal, ou (sic) se referir a normas, crenças e
valores sociais que causam angústia e podem ser fatais, em outras palavras
"comportamentos normais de uma sociedade que causam sofrimento e
morte".
Percebo, ou percebe-se
uma relação intrínseca aos temas supracitados por se tratarem de questões
atuais, mas com denominações diferentes, mas que de certo modo levam a um mesmo
denominador comum, ser aquilo que a sociedade impõe, como um padrão, com suas
regras, seu adestramento social e conjugal que levam as pessoas meio que a se
comportar de uma mesma maneira, dominados pelo vício intelectual de ser aquilo
que a normatização da vida os torna.
Parecem que vivem presos
a uma ideia de vida, enjaulados como seus sentimentos a encaixar em todo padrão
estipulado pela televisão, celular, críticos de moda, influencers, coachs entre
outros como se fossem formas de gelo a se moldar de uma maneira pré determinada
para cair no congelador e seguir a vida dentro do seu ciclo característico;
estudar, se formar, casar, ter filhos, se aposentar e morrer. Obrigações e
normativas que diferem opiniões, mas quem não segue o ciclo 'está com
problemas' ou 'está louco'...
O ponto de vista aqui é entender
o porquê as pessoas adoram apontar o dedo, e julgar a vida das pessoas alheias
como se controlassem as suas e tivessem uma sanidade perfeita a ponto de não
ser considerado um ser normótico? A patologia da normalidade existe como se
fosse um vírus latente que contamina a sociedade lentamente a ponto de gerar
alguns sintomas específicos:
Geralmente os normóticos ao contrário dos
loucos são pessoas passivas e acomodadas diante da própria vida. Optam por
apenas reagir aos fatos produzindo respostas irrelevantes e previsíveis,
conformadas ao óbvio e ao que propõe uma massa impensante que habita parte
significativa do planeta. Encontram argumentos previsíveis para justificar o
porquê NÃO fizeram alguma coisa ou porque desistiram de um desafio, para sua comodidade
injustificada copiar e colar no mundo acadêmico se tonou um vício para ser
aprovado e ser mais um profissional frustrado em uma sociedade pré julgadora
que não lê mais.
Tornaram-se seres
superficiais, artificiais e naturalmente químicos, ou seria tóxico? Respostas
curtas, programadas e desinteressantes, fazem com que este conceito de normose,
inclua estes no hall de cell phone zombies (zumbis de smartphones). É como
tirar a chupeta de um bebê, viciaram a tal ponto que os torna seres adequados a
uma vida em sociedade normativa, que cresce a passos largos para um grau
crescente de robotização no normótico.
Ele vive sob efeito da auto
mimese, que nada mais é do que a auto imitação. O indivíduo que imita a si
mesmo tende a se fechar num ciclo vicioso. Sempre as mesmas convicções, as
mesmas soluções ou os mesmos discursos. Faz as coisas de forma repetitiva,
utilizando baixo potencial criativo. Não surpreende e abre mão do direito de
criar e de ser diferente.
Para que serve uma
adequação que transformou a todos em um conjunto de pessoas iguais, chatas que
procuram sucesso financeiro a todo custo em ter e não ser, enquanto suas vidas
mergulham em depressão, ansiedade ou estresse? Ora uma via liga a outra
silenciosamente, sem perceber está doente, perante uma sociedade reguladora que
transforma loucos em seres abomináveis e os ditos normais em seres adequados.
E qual o preço dessa
adequação? Se não tiver tempo para prevenção, terá que arranjar tempo para
tratar a lesão, doença ou patologia, e
será muito mais custoso e/ou doloroso, e na grande maioria dos casos acham que
suas dores físicas são apenas físicas, e não se relacionam com disfunções
mentais e desequilíbrios emocionais e como não dizer espirituais com uma sociedade cada vez mais afastada da
espiritualidade (alimento da alma/espírito)?
Quando seus sonhos não se
adéquam ao que a sociedade, família quer, os sonhos morrem ao sentido de que
preferem teatralizar a felicidade a deixar com que cada um busque a sua e
aprenda a crescer dentro das adversidades, pois era normal uma padronização de
vida que tende a continuar por tempo suficiente até que as pessoas não quebrem
seus grilhões e vivam suas vidas pela livre espontânea vontade e sejam quem
quiserem ser.
Recentemente o filme
Coringa explicita justamente isso, o quanto a normatização provoca uma explosão
interna que nos revela um coringa dentro de cada ser quanto as suas
dificuldades, ou incapacidades de falar sobre seus problemas, se abrir e pedir
ajuda, mas este não aprendeu a perguntar. Não questiona o que lhe chega aos
ouvidos. Torna-se fake news num piscar de olhos, uma mentira dita mil vezes se
torna verdade, e para alguns a sua única verdade é aquela que seja dita, mas
não questiona suas próprias atitudes. O senso crítico e autocrítico é sofrível.
Sua curiosidade intelectual é rasa, o que o impede de se aprofundar nas
questões com que se depara na vida.
Apenas por estas
características preliminares podemos inferir que o normótico tende a ser um
sujeito mediano, nada arrojado e sem ambições de natureza evolutiva. Se você se
identificou com alguma das condições acima, saiba que existem muitas formas de
eliminar o 'vírus' da normose.
Aprenda a dizer não; não
posso, não quero, não vou não gosto, hoje não. Aprenda a dizer não sem se
sentir culpado. A seguir doutrinas e ou doutrinações que não lhe convém,
procure pelo sim que faz o seu coração vibrar e te faz levantar todo dia da
cama. Seja o tipo de pessoa que fala, por favor, com licença, obrigado, eu te
ajudo, ou vá à merda. Seja autêntico,
todos os outros já existem. Mude de planos, de sonhos, de roupa, de cabelo, de
cidade, de emprego, só não mude a sua essência por causa de outra pessoa.
O pulo do gato é quando
você para de esperar o momento perfeito, e começa a fazer aquilo que gostaria
de fazer progredindo com sua versão imperfeita mesmo. Como diria Marilyn
Monroe, "A imperfeição é bela, a loucura é genial e é melhor ser
absolutamente ridículo que absolutamente chato”.
Lindo é quem se alegra
com a alegria dos outros, pois quem é feliz não incomoda os outros. A crise já
passou outras vezes e vai passar de novo, como diria Renato Russo, 'tudo passa,
tudo passará' e para mudar comece a questionar, se tem uma curiosidade sadia diante do nevoeiro
do desconhecido? Se jogar sem garantias de que irá sempre ganhar, mas com ressalvas
de que perder nem sempre é sofrer. Você age com otimismo lúcido, enfrentando as
situações desconhecidas de forma automotivada? Está em vantagem, aquele que não
depende de que outro o motive. Faça por si mesmo, não dependa da bengala
invisível até que não possa mais se livrar dela.
Questione, seja uma
pessoa que gera dúvida e tem o hábito por interrogação? Exclamações podem
surgir, mas muitas oportunidades podem surgir quando se aprende a questionar,
principalmente a si mesmo. A reflexão
que deixo é não se deixe levar pelo ego e pelas críticas que podem ser construitivas
ou destrutivas. Você pode escolher ser vítima ou protagonista. A força motriz
que te conduz as realizações depende unicamente de você, resta saber se você quer
assumir as rédeas da sua vida e viver segundo o que queima por dentro, mesmo
que seja visto como louco por uma sociedade normótica que trata a normose como virtude.
LcBertoldo