Monday, December 23, 2019

Normose - será que somos normais?


Quem nunca leu a frase: 'Ser louco em uma sociedade doente é realmente saudável'? Ou: "Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente" por Jiddu Krishnamurti... Ai vai a minha indagação; a sociedade que não enlouquece adoece?

Há quem diga que a sociedade atual nestes tempos modernos, sofre muito mais por sentimentos invisíveis, mas muito visíveis aos sentidos de quem sente, como a síndrome do mundo moderno caracterizado por ansiedade, depressão e estresse. Mas quero falar sobre a doença de ser normal, a normose, se nunca ouviu falar trata-se de uma obsessão doentia por ser normal, ou (sic) se referir a normas, crenças e valores sociais que causam angústia e podem ser fatais, em outras palavras "comportamentos normais de uma sociedade que causam sofrimento e morte".

Percebo, ou percebe-se uma relação intrínseca aos temas supracitados por se tratarem de questões atuais, mas com denominações diferentes, mas que de certo modo levam a um mesmo denominador comum, ser aquilo que a sociedade impõe, como um padrão, com suas regras, seu adestramento social e conjugal que levam as pessoas meio que a se comportar de uma mesma maneira, dominados pelo vício intelectual de ser aquilo que a normatização da vida os torna.

Parecem que vivem presos a uma ideia de vida, enjaulados como seus sentimentos a encaixar em todo padrão estipulado pela televisão, celular, críticos de moda, influencers, coachs entre outros como se fossem formas de gelo a se moldar de uma maneira pré determinada para cair no congelador e seguir a vida dentro do seu ciclo característico; estudar, se formar, casar, ter filhos, se aposentar e morrer. Obrigações e normativas que diferem opiniões, mas quem não segue o ciclo 'está com problemas' ou 'está louco'...

O ponto de vista aqui é entender o porquê as pessoas adoram apontar o dedo, e julgar a vida das pessoas alheias como se controlassem as suas e tivessem uma sanidade perfeita a ponto de não ser considerado um ser normótico? A patologia da normalidade existe como se fosse um vírus latente que contamina a sociedade lentamente a ponto de gerar alguns sintomas específicos:

Geralmente os normóticos ao contrário dos loucos são pessoas passivas e acomodadas diante da própria vida. Optam por apenas reagir aos fatos produzindo respostas irrelevantes e previsíveis, conformadas ao óbvio e ao que propõe uma massa impensante que habita parte significativa do planeta. Encontram argumentos previsíveis para justificar o porquê NÃO fizeram alguma coisa ou porque desistiram de um desafio, para sua comodidade injustificada copiar e colar no mundo acadêmico se tonou um vício para ser aprovado e ser mais um profissional frustrado em uma sociedade pré julgadora que não lê mais.

Tornaram-se seres superficiais, artificiais e naturalmente químicos, ou seria tóxico? Respostas curtas, programadas e desinteressantes, fazem com que este conceito de normose, inclua estes no hall de cell phone zombies (zumbis de smartphones). É como tirar a chupeta de um bebê, viciaram a tal ponto que os torna seres adequados a uma vida em sociedade normativa, que cresce a passos largos para um grau crescente de robotização no normótico.

Ele vive sob efeito  da  auto mimese, que nada mais é do que a auto imitação. O indivíduo que imita a si mesmo tende a se fechar num ciclo vicioso. Sempre as mesmas convicções, as mesmas soluções ou os mesmos discursos. Faz as coisas de forma repetitiva, utilizando baixo potencial criativo. Não surpreende e abre mão do direito de criar e de ser diferente.

Para que serve uma adequação que transformou a todos em um conjunto de pessoas iguais, chatas que procuram sucesso financeiro a todo custo em ter e não ser, enquanto suas vidas mergulham em depressão, ansiedade ou estresse? Ora uma via liga a outra silenciosamente, sem perceber está doente, perante uma sociedade reguladora que transforma loucos em seres abomináveis e os ditos normais em seres adequados.

E qual o preço dessa adequação? Se não tiver tempo para prevenção, terá que arranjar tempo para tratar a lesão, doença ou  patologia, e será muito mais custoso e/ou doloroso, e na grande maioria dos casos acham que suas dores físicas são apenas físicas, e não se relacionam com disfunções mentais e desequilíbrios emocionais e como não dizer espirituais  com uma sociedade cada vez mais afastada da espiritualidade (alimento da alma/espírito)?

Quando seus sonhos não se adéquam ao que a sociedade, família quer, os sonhos morrem ao sentido de que preferem teatralizar a felicidade a deixar com que cada um busque a sua e aprenda a crescer dentro das adversidades, pois era normal uma padronização de vida que tende a continuar por tempo suficiente até que as pessoas não quebrem seus grilhões e vivam suas vidas pela livre espontânea vontade e sejam quem quiserem ser.

Recentemente o filme Coringa explicita justamente isso, o quanto a normatização provoca uma explosão interna que nos revela um coringa dentro de cada ser quanto as suas dificuldades, ou incapacidades de falar sobre seus problemas, se abrir e pedir ajuda, mas este não aprendeu a perguntar. Não questiona o que lhe chega aos ouvidos. Torna-se fake news num piscar de olhos, uma mentira dita mil vezes se torna verdade, e para alguns a sua única verdade é aquela que seja dita, mas não questiona suas próprias atitudes. O senso crítico e autocrítico é sofrível. Sua curiosidade intelectual é rasa, o que o impede de se aprofundar nas questões com que se depara na vida.

Apenas por estas características preliminares podemos inferir que o normótico tende a ser um sujeito mediano, nada arrojado e sem ambições de natureza evolutiva. Se você se identificou com alguma das condições acima, saiba que existem muitas formas de eliminar o 'vírus' da normose.

Aprenda a dizer não; não posso, não quero, não vou não gosto, hoje não. Aprenda a dizer não sem se sentir culpado. A seguir doutrinas e ou doutrinações que não lhe convém, procure pelo sim que faz o seu coração vibrar e te faz levantar todo dia da cama. Seja o tipo de pessoa que fala, por favor, com licença, obrigado, eu te ajudo, ou vá à merda. Seja  autêntico, todos os outros já existem. Mude de planos, de sonhos, de roupa, de cabelo, de cidade, de emprego, só não mude a sua essência por causa de outra pessoa. 

O pulo do gato é quando você para de esperar o momento perfeito, e começa a fazer aquilo que gostaria de fazer progredindo com sua versão imperfeita mesmo. Como diria Marilyn Monroe, "A imperfeição é bela, a loucura é genial e é melhor ser absolutamente ridículo que absolutamente chato”.

Lindo é quem se alegra com a alegria dos outros, pois quem é feliz não incomoda os outros. A crise já passou outras vezes e vai passar de novo, como diria Renato Russo, 'tudo passa, tudo passará' e para mudar comece a questionar, se  tem uma curiosidade sadia diante do nevoeiro do desconhecido? Se jogar sem garantias de que irá sempre ganhar, mas com ressalvas de que perder nem sempre é sofrer. Você age com otimismo lúcido, enfrentando as situações desconhecidas de forma automotivada? Está em vantagem, aquele que não depende de que outro o motive. Faça por si mesmo, não dependa da bengala invisível até que não possa mais se livrar dela.

Questione, seja uma pessoa que gera dúvida e tem o hábito por interrogação? Exclamações podem surgir, mas muitas oportunidades podem surgir quando se aprende a questionar, principalmente a si mesmo.  A reflexão que deixo é não se deixe levar pelo ego e pelas críticas que podem ser construitivas ou destrutivas. Você pode escolher ser vítima ou protagonista. A força motriz que te conduz as realizações depende unicamente de você, resta saber se você quer assumir as rédeas da sua vida e viver segundo o que queima por dentro, mesmo que seja visto como louco por uma sociedade normótica  que trata a normose como virtude.

LcBertoldo