Monday, January 26, 2009

Fim de um Sonho




Famigerado o boquiaberto boia fria lamenta o desatino


Rabugento e maltrapilho quase um mendigo 'se bate' no meio fio metropolitano


A procura de uma oportunidade abastada se jogou como um peixe através da pororoca, para desovar o seu futuro em águas mais fartas...


Veio atrás da sorte, mas só obteve o insucesso


Sucesso para ele é destronar os pombos de um banco imundo e dormir até o dia amanhecer


Com frio sente a fome que lhe dá a sede de acabar com sua fome canibal


Acaba matando sua sede na maldita cachaça barata de botequim


E acaba lisonjeiro com a lua aos seus pés diante da poça imunda de um boeiro entupido


E seu olhar se mistura a sujeira e detritos soturnos que contaminam o seu fascínio pelo poder aquisitivo que tanto sonhou


Vai pelo ralo a sua esperança e a foto da sua família que tanto amparou


Oito filhos...não parece muito velho, só está maltradado pelo tempo onde já é avô


Foi-se o tempo de fartura observa ele...no vão momento como um cachorro ao visualizar o frango assado dentro do assador


Vida desgraçada e ilusória grita ele diante do seu cobertor jornalístico do dia anterior


Manchete da capa: - Mercado aquecido: emprego cresce 5,5% no país...


Mas o que mais cresceu em seu peito fora o pavor desesperante, amparado pela ignorância conquistada pelo seu medo alucinante


Que o tornou manchete de capa do dia posterior: Mendigo maltrapilho morre afogado pelo próprio vômito: - 'possibilidade de emprego teria sido muito comemorada por João Carlão dos Santos que não aguentou, morreu sorrindo vomitado, naufragou pelo sonho contestador de viver uma vida farta na cidade grande, que desabafou em uma carta como um testamento':

"Predisponho-me a um sonho...

Enlouquente e inconsciente

De quem ama e de quem sente

Mudar um destino com um desatino

Sair de casa, mudar de vida e conquistar tudo que sonhei

Um sentimento variável, mas muito invariavelmente sonhador que me tomou

Fui levado como que se leva um leme

Forte a frente junto a corrente de um rio

Corri, persisti e perdi

Mas agora ganhei, e comemoro esta felicidade

De mudar a realidade bebendo pensando

De sonhar em remar contra a corrente e jamais novamente para trás."
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O sonho acabou e com ele em uma poça de vômito essa carta ficou, para história como uma capa de jornal ou como mais uma estatística indigente que ninguém lembrará no dia posterior.



Lucas Bertoldo

1 comment:

mariana s. said...

um triste fim pra qualquer cidadão do mundo que sinta.
Menos pro João Carlão, que pelo menos compensou o ácido da mediocridade da sua vida no ácido do vômito, o qual deve ter sido o maior êxtase de sua vida inteira.
E mesmo que seja enterrado em vala comum, bom pra ele.