Ela estava ali, sentada de pernas cruzadas me analisando, tomando notas com um lápis, riscando rispidamente anotações que discorde, ou concorde escrevendo mais ainda, o som do lápis no papel na sala ensolarada, contrastava com o silêncio entre as pausas entoadas entre uma resposta e uma observação, até que então ficou intrigada com meu relato e seus olhos se encresparam mas, logo tranquilizou-se e sem querer se deixou levar pelo assunto...
O ego não teve escolha e o inconsciente tomou conta, não se encontrava mais a analista fria e sagaz apenas, uma mulher que clamava por fazer parte da história que eu contava. E nessa exclamação mental a ponta do lápis quebra e junto ao silêncio que externa a pontuação, fica sem jeito que chega a ruborizar. Teria sido seu disfarce descoberto? O analisado virando analista. Disfarça lentamente, e tira uma caneta do cabelo que o faz desenrolar, oculta um pouco o rosto e a si mesma.
A partir daí me olhando profundamente nos olhos, por cima do óculos reclinado ajeitou-se na poltrona -descruza as pernas- pega o lápis do chão, levanta avidamente, ajeita os óculos, e toma a caneta com a mão, sem se dar conta, coloca elas aos lábios e deixa escapar um leve suspiro, por um momento, parece perde-se a si mesma e em mim, o que me faz suspirar como um ventil, do ar preso ao peito, pela apreensão que acabamos de entre cruzar os olhos...
Ali ficou o momento preso ao subconsciente até acordar, me fazendo conscientizar que tudo não passou de um devaneio, um sonho lúcido, que me fez olhar a terapêutica de analisar, com mais detalhes... imaginando a ideia de projetar o poder de ser alguém além daquilo que fui procurar...
LcBertoldo
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